Balanço do Mercado Imobiliário 2007

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Tecnologia e Qualidade

 

Carlos Borges

Tecnologia construtiva a serviço da comunidade

O mercado imobiliário vive um momento histórico em que o foco de seu trabalho gradualmente se volta às famílias de baixa renda. Para atender a esse público, a vice-presidência de Tecnologia e Qualidade do Secovi-SP passará a privilegiar a gestão tecnológica estratégica

A tradicional vice-presidência de Tecnologia e Qualidade do Secovi-SP foi reestruturada e dela surgiram duas novas: Mercados e Tecnologia. Com a proposta de privilegiar a gestão estratégica do produto imobiliário, Carlos Alberto Borges assume Tecnologia, sua área de atuação no Sindicato há aproximadamente dez anos. “Apesar de muitos acharem que tecnologia é uma questão que diz respeito apenas às construtoras, o tema é de vital importância também para as incorporadoras, pois o seu domínio é fator crítico de sucesso para o negócio imobiliário como um todo e não apenas a quem constrói”, destaca Borges.

Num momento em que o foco de trabalho do setor imobiliário gradualmente se dirige às camadas de baixa renda, a tecnologia construtiva ocupa patamar cada vez mais importante. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há um deficit habitacional superior a 8 milhões de unidades no País e grande parte dessa demanda está concentrada nas camadas com renda de até três salários mínimos. “A margem de lucro é menor nos negócios voltados para o mercado popular. Se não houver domínio tecnológico, não existe controle de custo, o que pode acarretar até prejuízos para as empresas”, alerta Borges.

Uma das metas da vice-presidência é desenvolver análises alternativas para a produção de imóveis econômicos, com base em exemplos e parâmetros internacionais e por meio da interação do Secovi-SP com a comunidade acadêmica nacional.

“Qualidade, outra vertente do tema tecnologia, significa ausência de defeitos em um produto. E, no nosso mercado, corresponde ao imóvel bem construído. Mas não podemos confundir qualidade com bom acabamento”, esclarece Borges. Ele lembra que em maio de 2010 entra em vigor a NBR 15575 – Norma Brasileira de desempenho de edifícios de até cinco pavimentos. Esta norma, que possui força de lei, estabelece nível de desempenho mínimo de alguns sistemas construtivos ao longo da vida útil de um imóvel e objetiva atender às necessidades dos usuários, especialmente os de baixa renda. “Se um incorporador não tomar os cuidados previstos na norma, correrá o risco de demandas judiciais.” É importante que a questão da vida útil seja tratada no projeto e com visão de longo prazo. Os imóveis precisam ser concebidos para terem o potencial de atingir o desempenho previsto ao longo de toda a vida útil especificada.

A possibilidade de crescimento imobiliário advindo com o programa Minha Casa, Minha Vida não pode dar margens para o setor repetir erros cometidos na década de 1970, período em que houve uma explosão de imóveis populares, financiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). Muitos daqueles imóveis apresentaram patologias precoces e tecnologias ditas, à época, inovadoras, não apresentaram os resultados desejados, tornando o setor público até reativo a inovações na construção civil, quadro que felizmente vem mudando.

Segundo Carlos Borges, a vice-presidência vai fomentar a utilização de normas técnicas e mudar a realidade atual do arcabouço normativo existente. “O Comitê Brasileiro da Construção Civil, o CB 02, está se reestruturando para melhorar o processo de elaboração e revisão das normas técnicas e o setor precisa participar mais ativamente desse processo”, diz. “Países desenvolvidos investem em normas técnicas, que nada mais são do que a sistematização do conhecimento. Elas regulamentam o mercado, tornam a concorrência mais saudável e reduzem barreiras comerciais.”

A vice-presidência vai estimular o exercício de repensar a exigência de certificações obrigatórias para financiamento dos imóveis brasileiros. “Há formas mais eficazes de se aferir a qualidade das obras, como, por exemplo, a avaliação pós-ocupação por meio de pesquisas com os consumidores. Certificação não significa necessariamente qualidade”, ressalta Borges.

Dentre as ações dessa vice-presidência consta a promoção de eventos que levem à discussão todos esses assuntos por vários segmentos da sociedade.